RETRATO DA SEMANA

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sexta-feira, 16 de junho de 2017

REPONTANDO DATAS / 16 JUNHO



Num dia 16 de junho, do ano de 1915, nascia na cidade de Santa Maria Balbino Marques da Rochafilho de Joaquim Junqueira Rocha e Esther Marques da Rocha. Formou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre em 1937. Cirurgião e ginecologista, trabalhou por mais de 50 anos em hospitais da capital, como Beneficência Portuguesa, Hospital Ernesto Dorneles e outros. Clinicou em várias instituições, como a Caixa dos Ferroviários e a Associação dos Funcionários Públicos do Estado do Rio Grande do Sul. Conforme o depoimento de colegas que ainda o conheceram em atividade, era um cirurgião dos mais ativos, operando muito em ginecologia, com rapidez e segurança. 

Como escritor foi poeta regionalista, tendo encontrado grande repercussão com o poema satírico que escreveu aos 22 anos, em 1937, A Estância de D. Sarmento – Trovas do Amigaço, livro que teve mais três edições, em 1957, 58 e 73. Em 1956 publica Trança Crioula, seguindo-se A Mudança do Portela de 1957, Bruno Tivico – Trovas do Amigaço s/d, e em 1978 republica-os numa antologia com os poemas Colônia do Sacramento e Versos Esparsos.
 
A ESTRUTURA DO POEMA
O poema A Estância de D. Sarmento é composto por treze cantos, com número de estrofes variadas, com sete versos cada uma, heptassilábicos, com rima abbcddc, sendo também dois poemas em um, como no Antônio Chimango.  (José Eduardo Degrazia)
 
O POEMA
De sua antologia publicada pela Corag em 1978 – Companhia de Artes Gráficas –, vamos mostrar as estrofes da abertura.
 
COMO QUEM ABRE:
 
Indiada do meu rincão,
Em quem o laço da ausência,
Sempre cinchando a querência,
Não rebenta por detrás...
Reverdecendo a memória,
Do peão que les canta a história,
Ao buenacho capataz.
 
Índio pobre, despilchado,
Surrado pelo destino,
Num galopeio teatino
De pago em pago cantando
Enchendo o luar das noites...
E a rebencaços e açoites,
Aos mandões desatinando.*
 
Que a desgraça engarupada,
Na anca deste ruano,
Não le traga desengano,
De pensarem num despeito...
Sou triste e vivo aperreado,
Mas quem vive tironeado,
Merece estima e respeito.
 
Se canto, sei o que canto...
Que as armas contra os tiranos,
Não têm corte nem dois canos,
É o verso, o luar de prata,
A ironia, a corda prima,
Que o verso fere na rima,
E se não fere, maltrata.
 
Por mais tédio e mais cansaço,
Que a vida atroz nos reserve,
Por dentro sempre nos ferve
A lembrança do fogão
Como a realeza dum cetro...
Que hoje é mais que um espectro,
Sem forma e sem coração!
 
A apreciação não me vale...
Se não servir não importa,
Sou índio de guampa torta
Que à vida cego se atira.
Em quem o juízo de um outro,
É como coice de potro
Em tronco de guajuvira.
 
D. Sarmento, grande amigo
(Que Deus o tenha na glória)
Enquanto dedilho a história
Nos baixos deste teclado...
E a minha toada crioula,
Cante baixo como rola,
Pelo respeito ao passado.
 
Vou les contar de mansito,
A história da velha estância,
Que hoje entregue à larga ânsia,
Ao grande remordimento,
É o boi-tatá da querência...
Mas léguas, não são ausência
Pras patas do pensamento.
 
E aqui junto a caboclada,
Na relancina da trova,
Um relho que se retova
A tentos da tradição...
Enquadrilhando na calma,
A bagualada de alma
E os chucros de coração!
 
Lembrar o segundo verso da Oferta do Antônio Chimango:
“De fazer aos mandões guerra”.